sábado, 29 de julho de 2017

Tentar compreender o que está desconectado!


Aprendi muito após sofrer o AVC, por enfrentar uma realidade muito diferente daquela que conhecia e que fazia parte da minha vida e só tem sido possível avançar nesta nova existência, graças ao entendimento que tenho interiorizado desde então.

Acontece que ao sofrer o AVC, parte do meu cérebro, desligou-se do meu corpo, deixando-o à mercê dele, perdendo muitas das funções que estavam coordenadas entre si, voltar a ligar de novo funções tão distintas, é muito complexo.

Agora o meu corpo, a minha mente e o meu cérebro têm maneiras muito distintas de compreender o que vou passando, nem sempre consigo que estejam em sintomia, cada um compreende à sua maneira, o que é ainda mais complicado de gerir.

O meu cérebro tem o grande entendimento de como deve funcionar o meu corpo e a minha mente ajuda a interligar tudo, contudo está tudo num rebuliço difícil de controlar.


Consigo entender facilmente o que me solicitem que faça, utilizem as palavras que utilizarem, agora o meu cérebro, precisa que lhe expliquem com certas palavras, que considera correctas ou que visualize o que pretendem que faça, senão fico sem saber o que pretendem de mim e sem conseguir executar com o minino de alguma harmonia.


Apesar de ser muito confuso, tento perceber como o meu cérebro vai funcionando e ao mesmo tempo tento conjugar o que já vou compreendendo, no entanto requer muita persistência e tempo, pois nada é tão fácil como parece.


Viver entre o que eu compreendo e o que o meu cérebro compreende, é viver todos os dias numa corda bamba, sem nunca saber o que me espera no minuto seguinte, até conseguir a ligação completa entre estes dois mundos dispersos!


Anabela Jerónimo Resende

terça-feira, 25 de julho de 2017

Sentimentos profundos


Não é de maneira nenhuma simples encontrar um caminho alternativo que me satisfaça em pleno, sei bem o que quero ou o que desejo, contudo sinto falta de alguma coisa, o quê ao certo, não sei dizer, só sei que, em boa parte do meu tempo, falta sempre alguma coisa.

O problema, sou eu mesma, que por vezes não me sinto encaixada em lado nenhum, sinto constantemente uma eminente necessidade de experimentar uma liberdade plena, que agora ainda não consigo ter, de a agarrar, no entanto está sempre a escorrer por entre os meus dedos, é assim que sinto.

Em metade de mim, sou a mesma pessoa de sempre, de personalidade forte, que não deixo de dizer o que penso, que faz o que pretende, determinada, não me deixando ser arrastada pelo que não quero, sou eu própria sem dissimulações.


Agora a outra metade de mim, tornou-se uma pessoa frágil, constantemente, por dentro vivo num mundo que dá a impressão de se partir a qualquer momento, examinando muitas vezes o meu peito rasgado ao meio, talvez vezes demais.


Essa é uma luta que tenho comigo mesma, juntar todos os fragmentos quebrados da minha alma, até que se unem num só e deixar de sentir a falta daquilo que nem eu mesma sei!


Anabela Jerónimo Resende

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Continuamente vigilante!


Acomodada no meu sofá, como tantas outras vezes acontece e aonde prefiro estar, vou escrevendo ou vou teclando o que o meu interior vai sentindo ou recordando memórias, sem restrições ou talvez com algumas reservas, por desejar que alguns pensamentos mais profundos sejam preservados.

Não por medo de reviver situações ou medo de falar sobre acontecimentos que me marcaram mais pela negativa que pela positiva, apenas aprendi com o tempo que nem tudo devo revelar, porque nem sempre sou bem interpretada por quem não compreende o que passo.

Prefiro escrever quando me encontro só, sem interferências externas, em silêncio comigo mesma, onde os pensamentos ganham vida e posso seleccioná-los para partilhar com quem tem vontade de dar uma leitura ao que vou rabiscando.

Não me considero uma escritora, nem lá perto estarei, sou apenas alguém que encontrou na escrita uma maneira de exteriorizar o que lhe vai na alma atormentada, ajudando-me a ultrapassar situações tão confusas de gerir, onde pudesse dar alguma coerência onde por vezes não existe nenhuma.  

E na medida em que posso ajudar, quem vive com a alma fragmentada como eu, ajudo a mim mesma, compreendendo melhor este caminho, muitas vezes caótico e cheio de artimanhas!

Anabela Jerónimo Resende

terça-feira, 18 de julho de 2017

Desistir jamais!

Não vale a pena rejeitar o futuro, não vale a pena querer mudar o passado, não posso nem devo desistir de mim própria, nem desistir dos sonhos trancando-os no fundo de um baú.

Devo capacitar-me e valorizar-me como pessoa, acredito que ainda tenho tanto para dar a este mundo, por isso devo esquecer a tristeza, os motivos que me façam chorar, não dar lugar às dúvidas, nem viver cercada de medos.

Pode haver memórias que vivem enraizadas em mim, no entanto procuro preservar somente aquelas que me façam sorrir só de pensar, os momentos felizes que vivi e todos aqueles momentos que dominarão o meu coração com alegria e satisfação.

Mesmo que a tristeza bata a minha porta, mesmo que as lágrimas escorram na minha face, mesmo que o meu coração tenha dúvidas do futuro, mesmo que eu tenha medo do desconhecido, vou sempre mostrar que não têm lugar na minha vida. 

Pois enquanto possuir forças dentro de mim, vou sempre combater tais sentimentos, portanto não têm um lugar sucessivamente na minha vida, podem até ser passageiros, não podem no entanto ter um lugar cativo. 

Anabela Jerónimo Resende

domingo, 16 de julho de 2017

Período para reencontrar o meu novo eu!


Ao sofrer o AVC perdi quase tudo, a vida como a conhecia, pessoas que se diziam amigas, um trabalho que adorava, muita coisa mesmo, em troca fiquei com uma incapacidade, com sequelas motoras, tremendamente emotiva e com a minha vida virada do avesso.

De diligente fiquei lenta,  de dar 220 por cento passei a ser menos que 100 por cento e aos 44 anos eu era de repente, uma pessoa com uma incapacidade física, como lidar com isso?

Foi complicado, aliás foi muito difícil ver-me de repente assim, no entanto era tão claro para mim que a minha vida tinha mudado para sempre naquele segundo.

Compreendi que voltar a ser o que eu era antes, nunca mais, não só devido a tudo o que estava a passar ou às sequelas que agora sou detentora, mas a todo o conjunto de situações que passei e ainda vou passando e por ter mudado a maneira de encarar certas situações e a vida.

Contudo precisei encontrar outro caminho, outros amigos, alguma coisa que me satisfizesse como pessoa, que me mostrasse que ainda era capaz de muitas outras coisas, mas duma coisa tenho a certeza, com a mudança na minha vida, tenho adquirido mais auto conhecimento, do meu corpo, do que desejo e de quem me rodeia, do que alguma vez tive.

E sempre acreditei na minha reabilitação, até porque sou uma pessoa que tem motivos para não desistir desta luta, simplesmente porque não quero, além de ser muito determinada e não deixar que as dificuldades me derrubem.

Com deveras persistência, muita vontade e ajuda de profissionais admiráveis, dediquei-me à fisioterapia e tudo foi melhorando gradualmente, somente a minha vida não voltou a ser mais a de antigamente, mas fui compreendendo o que realmente é verdadeiro e importante para a minha existência.

Anabela Jerónimo Resende

sábado, 15 de julho de 2017

Aprender a ultrapassar os obstáculos!


No exacto momento em que sofri o AVC soube o que me tinha acontecido, tive a consciência da paralisia do lado direito, da pequena alteração na fala, que não tinha perdido as minhas faculdades, nem a memória, apesar de durante 11 dias manter-me num estado reservado e estar alheada a quase tudo.

O que não fazia ideia era onde tinha sido a lesão e a extensão da mesma, foram pormenores que fui sabendo conforme o tempo foi passando, dando lugar à minha curiosidade, começando a fazer perguntas a quem diariamente estava comigo, a ajudar-me a ficar mais autónoma.


Com a passagem do  tempo, já mais calma, mais consciente de mim, tentava saber tudo o que pudesse ajudar-me a compreender melhor o que envolvia o AVC de que fui alvo, tudo o que me auxiliasse a combater este estado de dependência em que estava.


Além de ficar com uma Hemiparesia à direita, fiquei com uma Hemiplegia Flácida, com sequelas motoras, sequelas na sensibilidade, com desordem emocional, com um vazio no cérebro, que sinto até hoje.


Não fiquei com défices cognitivos significativos, nem com a minha memória afectada, pelo menos com nada de relevante, o pequeno déficit da fala praticamente passou, conseguindo expressar-me muito bem.


O pouco conhecimento que fui adquirindo ajudou a ultrapassar muitas das dificuldades que passo, tanto que no meio de todos os obstáculos, sinto-me agradecida por continuar viva, mesmo que a minha vida se tenha alterado na totalidade.


Anabela Jerónimo Resende

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Escolhas possíveis…


Qualquer tipo de dependência é muito complicada de gerir, seja dependência por opção, por fraqueza, por necessidade ou por força do destino, cada pessoa tem que encontrar o que precisa para ter forças, quando elas estão no fim, para ultrapassar essa questão de relevância na vida de cada um.

Podia esconder-me, fechar-me em casa, esquecer o mundo que existe do lado de fora, seria tão fácil resignar-me ao infortúnio, fechar-me dentro de mim própria, com desculpas que até fariam sentido e talvez ninguém me condenasse por isso, mas não foi o que escolhi.  

Escolhi deixar a minha vontade de batalhar prevalecer, a coragem de como quero encarar o que de menos bom me vai acontecendo, decidi levantar a cabeça e enfrentar tudo de frente, decidi continuar a ser como sempre fui, forte e inconformada.

Não vacilo quando tenho que caminhar o que me é proposto, nem fico centrada na minha dor, não dou mais importância do que os meus problemas merecem, quero continuar a descobrir este vasto mundo, mesmo que nem sempre seja tão fácil conseguir os meus intentos.

Pretendo continuar a lutar, a obrigar-me a ser uma resistente, chegar ao fim de cada dia e sentir que tentei tudo o que estava ao meu alcance, mesmo que o objectivo esteja um pouco longe, no entanto mais perto a cada dia, por não desistir nem deixar-me arrastar por uma espiral de contratempos, que muitos dias tenho que enfrentar!

Anabela Jerónimo Resende

terça-feira, 11 de julho de 2017

Dia após dia a vida continua…

Ao olhar para trás, para o meu percurso após AVC, tanta coisa mudou em mim, apesar de ainda não estar como gostaria, estou a anos-luz dos primeiros tempos, em que dei por mim meio paralisada e a andar de cadeira de rodas.

Tem sido um período de aprendizagem, pois nem sempre consigo ultrapassar as dificuldades da maneira que idealizo, nem da forma que quero, muitas vezes é mesmo o contrário do que julgo ser possível, no entanto tem sido tudo no tempo essencial.

Entretanto fazer o possível para ajudar outras pessoas, ajuda-me a seguir em frente, é hoje em dia uma prioridade na minha vida, e apesar das limitações que ainda condicionam o meu corpo, não deixo de ser activa e de conseguir levar a bom termo o meu desejo, de levar bem-estar a quem necessita.


Ao estar rodeada por pessoas, que apesar de terem também sofrido um AVC, ao terem adquirido algumas limitações, têm a mesma vontade de ajudar, a mesma determinação de fazerem a diferença na vida de alguém, ou simplesmente demonstrar dia após dia que “a vida não cessa, mas adequa-se”, como eu, é muito gratificante.

E poder testemunhar que muitas pessoas já olham para nós com respeito pelo que estamos a fazer, que nos felicitam pela coragem que temos, deixou-me muito satisfeita e orgulhosa do trabalho que estamos a desenvolver e só motiva-me para continuar em frente!


Anabela Jerónimo Resende








domingo, 9 de julho de 2017

Vida alterada

Sempre fui uma pessoa acelerada, cheia de vida e de stress, vivia a correr de um lado para o outro, tinha múltiplos afazeres constantes, o tempo não chegava para nada a meu ver, quando terminava uma tarefa começava logo outra, quando não fazia duas tarefas ao mesmo tempo e era muito comum acontecer.

Foi uma das coisas que mais me custou, estar sem fazer nada, depender de alguém para quase tudo, foi uma grande reviravolta na minha vida, ficava a pensar vezes sem conta, em como seria a minha vida a partir daquele dia em que tudo mudou.

Eu tinha um sonho, tinha até vários sonhos agendados para mais tarde, até que chegasse a oportunidade de os executar, de os encaminhar para uma pronta realização, pensava eu, que fariam parte do meu futuro.

Tudo se modificou, os sonhos que tinha, a rapidez que fazia parte de mim, os afazeres acumulados, comecei a fazer tudo mais lentamente, com a necessidade de tudo feito numa outra extensão de tempo.

No entanto continuo por dentro, a sentir ser aquela pessoa, o que por vezes causa dissabores a mim mesma, por não conseguir ser e ao mesmo sentir que a realidade mudou, que já não sou a mesma de antigamente, que é sem dúvida a grande contradição, que existe dentro de mim.

Continuo a desejar, ter um pouco mais do controlo da minha vida e apesar de saber que os sonhos modificaram-se para mim, não perdi a capacidade de sonhar, de querer, pois acredito que posso enquadrar-me noutros sonhos!

Anabela Jerónimo Resende