sábado, 26 de outubro de 2019

Um dia


Um dia, o mundo pareceu que iria acabar para mim, por tudo o que aconteceu na minha vida, por tudo o que havia perdido, por tudo o que estava a viver.

Mas o meu mundo não acabou e continuou a girar, não da maneira que costumava ou como eu gostaria, mas logo percebi que teria uma palavra a dizer como desejava que o meu mundo fosse dali para a frente.

Viver agarrada aquela situação de dependência total que me afectava fisicamente e psicologicamente ou enfrentar de frente a realidade de tudo o que me tinha acontecido, era uma escolha que só me competia a mim.

Mudar o que me era permitido nesta situação, decidir o que seria melhor para mim mesma e o que queria para a minha vida, foi algo que decidi depressa, pois sentia necessidade de me livrar rapidamente daquela dependência que me sufocava lentamente.

Nos primeiros tempos dediquei-me exclusivamente à fisioterapia, queria conseguir fazer o máximo possível pelo meu corpo fragilizado, queria fazer render o tempo que passava a reabilitar-me, mas mais tarde comecei a perceber, e apesar de continuar empenhada na minha recuperação, que a fisioterapia não era tudo.

O que precisava era sentir-me bem comigo mesma, era tentar fazer pequenas coisas para depois conseguir fazer mais e quanto mais eu me sentia capaz, melhor me sentia.

E quanto melhor eu me sentia, menos ansiosa ficava e mais o meu mundo se modificava, novos horizontes se abriam e comecei a encarar a vida de maneira mais calma, tanto o quanto seja possível para mim.

No meio de tudo isso houve muitos medos, muitas lágrimas, muitas incertezas, ainda existem pequenos fantasmas que me querem assombrar de vez em quando, mas eu expulso-os da minha cabeça.

E pretendo continuar a encarar esta minha jornada da melhor maneira possível, e apesar das dificuldades que possa encontrar no meu dia-a-dia, eu tenciono ser sempre forte o suficiente para ultrapassa-las, porque o mundo continuará a girar mesmo que o meu mundo se tenha alterado!

Anabela Jerónimo Resende

sábado, 5 de outubro de 2019

Sensações


Sensação de formigueiro ou dormência, sensações de queimaduras ou picadas, facadas ou frio doloroso, são queixas comuns de quem sofreu um AVC e atingiu o sistema nervoso central.

Um simples toque no local afectado, seja com um leve roçar da roupa, seja com a brisa costumam ser sensações muito desagradáveis ou de dor, no entanto são estímulos inofensivos.

É exactamente assim que me sinto desde que sofri o AVC, todos os dias, nenhuma hora do meu dia é fácil, pois não me oferece descanso, nem por escassos minutos, esses sintomas já fazem parte de mim.

Como eu consigo viver assim, sem a harmonia do meu corpo, sempre com uma sensação desagradável, nem eu sei.

O que eu sei, é que se eu não tivesse a capacidade de sorrir e de brincar com o que me acontece, já teria dado em louca por tudo o que sinto, sendo real ou não.

Então manter um sorriso e a boa disposição não é uma opção, é uma necessidade para manter camufladas de mim própria, as sensações tão exacerbadas que vou sentindo e viver a vida um pouco melhor.


Anabela Jerónimo Resende