domingo, 18 de agosto de 2019

Perdas & Ganhos


A pedido do Blog AVC Luta Diária, para escrever sobre Perdas & Ganhos aqui fica um pequeno texto que escrevi.

Já passou mais de 6 anos desde que sofri um AVC Hemorrágico, no Tálamo, no Sistema Nervoso Central, em que fiquei completamente paralisada do lado direito, o que condicionou muito a minha vida, tinha então 44 anos.

Derivado ao local da lesão, além das sequelas físicas, fiquei também com as sequelas sensitivas e emocionais, e por isso os meus dias depois do AVC nunca foram fáceis, ao perder os movimentos todos do lado direito, tive que aprender a andar de novo, a aprender cada coisa como se fosse a primeira vez, foi tudo muito demorado.

Fiquei dependente de uma cadeira de rodas, assim como da minha família para tudo o resto, desde fazer a higiene pessoal, vestir e até mesmo comer, entre tantas outras coisas, perdi a vida como a conhecia até então, foi mesmo como se começasse de novo a conquistar pequenas coisas, uma de cada vez, muito lentamente.

Aos poucos fui recuperando a minha mobilidade, a minha autonomia, aprendi a adaptar-me há minha nova condição, hoje em dia, sou uma pessoa independente na minha casa, faço a higiene pessoal, visto-me, calço-me e alimento-me, tudo sozinha, além de fazer as refeições e várias tarefas de casa, aprendi a fazer tarefas normais, mas de outro jeito que fui descobrindo.

Dia após dia, adapto-me a novas maneiras de conseguir fazer as tarefas que antes eram banais, pois existem várias formas de me adaptar a esta nova vida, a aprender a ter uma vida o mais independente possível e a reajustar-me a uma nova maneira de olhar a vida.

Ainda não estou como antes, as sequelas foram muitas, mas descubro sempre outras formas de compensar o que havia perdido, porque para mim o importante é estar viva a viver outras experiências, que são tão válidas como as anteriores.

Devemos sempre cultivar a esperança de que tudo vai melhorar, pois a vida não termina, mas vai adaptar-se a uma nova forma de viver.

Anabela Jerónimo Resende

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Aceitação


Aceitar o que nos acontece, aceitar o que o destino ou a fatalidade que a vida nos reserva, nem sempre é fácil de aceitar e muito menos aceitar de ânimo-leve.

Depois de passar aquela apatia que senti nos primeiros dias, logo após sofrer o AVC, comecei a aceitar o que me tinha acontecido, pois era algo que sentia dentro de mim que devia ser assim.

Acabei por não sentir a revolta, nem de início, nem nos dias de hoje, como acontece muito, o que é natural devido aos acontecimentos inesperados de uma vida transformada.

Mas o que nunca fiquei foi conformada, ainda hoje em dia não estou conformada com a minha vida toda modificada, por algo que não queria nem pedi.

O aceitar, não quer dizer que ficasse parada no tempo, não quer dizer que não tentasse mudar a situação ou que ficasse o resto da vida a lamentar.

O aceitar é inevitável, aconteceu e quanto a isso não posso fazer nada, mas posso tentar sempre fazer algo para reverter a situação.

É aí que entra a minha força, a minha determinação, a minha grande vontade de querer e de vencer, que vêm nem sei de onde, mas que estão cá dentro de mim.

Então luto, batalho pelo que quero, pelo que sinto ser certo, porque ouço uma voz que está sempre comigo, que diz ao meu ouvido baixinho:
”Não pares, não desistas, não renuncies ao que desejas, continua sempre em frente…”

Não consigo compreender de onde vem essa voz que existe dentro de mim, mas ainda bem que existe, talvez seja o que eu precise para nunca desistir de mim.


Anabela Jerónimo Resende