Até à data em que sofri o maior revés da
minha vida, nunca tinha sentido tanto a minha presença, quase como se estivesse
a ser seguida por mim mesma.
Comecei a ser uma presença tão assídua a mim
própria, que me sentia a sufocar, para onde olhasse só me via a mim.
Nunca tinha tido um encontro tão presente, a
minha cabeça nem conseguia pensar naturalmente, queria fugir de mim mesma, era
uma dor que sentia insuportável.
Pensava que se estivesse acompanhada, essa
presença iria diminuir, mas cada vez mais invadia a minha vida, por essa razão
acabei por sentir o afastamento de algumas pessoas mais doloroso do que na
realidade era.
Queria fugir de mim mesma, chorei muito por
pensar que nunca mais iria recuperar da minha presença, desci a um poço de
negridão até não conseguir pensar com clareza.
Quando comecei a encarar a minha presença de
frente, quando percebi que não tinha alternativa senão conviver comigo mesma,
tudo ficou mais fácil para mim, contudo não foi um processo simples de maneira
nenhuma.
Descobri que a presença de mim própria é
muito poderosa e estava com sérios problemas para encarar a dor que tinha ao
sentir o coração esfarrapado e a alma desnudada.
No entanto, com o passar do tempo, a minha
própria presença fez-me aprender a conviver comigo mesma até atenuar o que
sentia, até aprender a estar sozinha e a gostar da minha companhia.
Foi um percurso doloroso tanto fisicamente
como psicologicamente, contudo consegui sobreviver a essa presença tão constante
até ser uma só, e assim conseguir sentir-me muito mais leve comigo própria.
Anabela Jerónimo Resende