quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Viajar sem tantas preocupações

Fazer uma viagem de avião e sozinha, pode ser uma dor de cabeça, tem que se pensar em tudo antecipadamente, porque quando se tem qualquer tipo de incapacidade pode encontrar-se diversas barreiras.

O que muitas pessoas não sabem é que para uma viagem sem tantos contratempos, existe o serviço de assistência do aeroporto My Way, que ajuda a combater muitos dessas dificuldades inerentes e acaba-se por encontrar pessoas de extrema simpatia, escolhidas para um trabalho de enorme valor, mesmo que muitos assim não o considerem.

Quanto às minhas experiências de viajar sozinha, sempre foram positivas e gratificantes, devido a essas pessoas que fizeram esse meu percurso ser mais simples, menos doloroso e que me ajudaram a ultrapassar algumas incertezas que poderia sentir, apesar de eu não gostar, nem um pouco de me sentar na cadeira de rodas, mas que compreendo ser necessário para que a viagem decorra o melhor possível para mim.

E na última viagem que fiz, fui sempre alvo de um tratamento de 5 estrelas, tanto no aeroporto de Lisboa como no aeroporto do Porto, assim como pelos tripulantes da companhia aérea TAP Portugal, pela qual viajei, como pela assistência da My Way, que me deram todo o apoio que precisei na deslocação necessária pelo aeroporto.

Deveria ser assim que todas as pessoas com incapacidade deviam ser tratadas, mas na realidade não é assim que acontece ou pode parecer coisa pouca quando o fazem para outras pessoas, mas quanto a mim sou grata por toda a simpatia com que me deparei, o que na minha condição de dependência nesse sentido faz toda a diferença.

Anabela Jerónimo Resende


sábado, 16 de novembro de 2019

Tempo invernoso


O inverno ainda não chegou e o meu corpo já anseia desesperadamente pelo consolo das temperaturas quentes, já é notório o quanto é para mim um tempo muito difícil, de tamanha complexidade.

O simples facto de não sentir o calor como devia e o frio em demasia, faz com que a minha passagem pelo inverno seja sempre violenta, obrigando o meu corpo a fazer vários ajustamentos corporais.

Viver assim não tem sido nada fácil para mim, tem dias que chega a ser uma verdadeira tortura ao meu corpo, o calor corporal que devia sentir é completamente nulo, ficando isenta de algum conforto ou bem-estar.

Aprender a gerir essa parte da minha vida e transformar todas essas sensações em algo positivo, nem sempre é simples, pois há dias tão negros para mim, como se tivesse dentro de mim o meu próprio inverno, estação do ano nem sempre encantadora.

Mesmo assim, continuo a acreditar que o dia seguinte seja sempre melhor, que consigo ver a luz ao fim de um túnel, como sei que depois de um inverno rigoroso, é a vez de chegar a primavera e mais tarde o verão caloroso.

Anabela Jerónimo Resende

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Assistente Pessoal


Já tinha ouvido falar do Modelo de Vida Independente, quando me candidatei para ser uma das pessoas que iriam beneficiar com uma Assistente Pessoal, após um convite de alguém que conhecia algumas das minhas limitações e principalmente das dificuldades que eu tinha para caminhar nas calçadas de Setúbal, irregulares e esburacadas.

Demorou mais de um ano, desde aquele primeiro dia, mas finalmente o Modelo de Vida Independente vai chegar a Setúbal ainda este mês., vai ser uma realidade para quem acreditou e tanto esperou.

E quanto a mim, já tive previamente a oportunidade de conhecer quem será a minha Assistente Pessoal, a pessoa que irá fazer parte do meu mundo daqui a alguns dias, vamos fazer parte da vida uma da outra, em circunstâncias diferentes, é certo, mas desejo que a entrega de parte a parte, tenha um bom impacto nas nossas vidas.

A minha Assistente Pessoal que seja bem-vinda ao meu mundo de terapia, de alterações de sensibilidade, de espasticidade, de avanços e de recuos, de muitos altos e baixos e de algumas lágrimas, será o início de um percurso juntas, em que nem tudo serão rosas, decerto haverá muitos espinhos , mas haverá momentos de muitos sorrisos e de muita alegria de viver à mistura com certeza.

Anabela Jerónimo Resende

sábado, 26 de outubro de 2019

Um dia


Um dia, o mundo pareceu que iria acabar para mim, por tudo o que aconteceu na minha vida, por tudo o que havia perdido, por tudo o que estava a viver.

Mas o meu mundo não acabou e continuou a girar, não da maneira que costumava ou como eu gostaria, mas logo percebi que teria uma palavra a dizer como desejava que o meu mundo fosse dali para a frente.

Viver agarrada aquela situação de dependência total que me afectava fisicamente e psicologicamente ou enfrentar de frente a realidade de tudo o que me tinha acontecido, era uma escolha que só me competia a mim.

Mudar o que me era permitido nesta situação, decidir o que seria melhor para mim mesma e o que queria para a minha vida, foi algo que decidi depressa, pois sentia necessidade de me livrar rapidamente daquela dependência que me sufocava lentamente.

Nos primeiros tempos dediquei-me exclusivamente à fisioterapia, queria conseguir fazer o máximo possível pelo meu corpo fragilizado, queria fazer render o tempo que passava a reabilitar-me, mas mais tarde comecei a perceber, e apesar de continuar empenhada na minha recuperação, que a fisioterapia não era tudo.

O que precisava era sentir-me bem comigo mesma, era tentar fazer pequenas coisas para depois conseguir fazer mais e quanto mais eu me sentia capaz, melhor me sentia.

E quanto melhor eu me sentia, menos ansiosa ficava e mais o meu mundo se modificava, novos horizontes se abriam e comecei a encarar a vida de maneira mais calma, tanto o quanto seja possível para mim.

No meio de tudo isso houve muitos medos, muitas lágrimas, muitas incertezas, ainda existem pequenos fantasmas que me querem assombrar de vez em quando, mas eu expulso-os da minha cabeça.

E pretendo continuar a encarar esta minha jornada da melhor maneira possível, e apesar das dificuldades que possa encontrar no meu dia-a-dia, eu tenciono ser sempre forte o suficiente para ultrapassa-las, porque o mundo continuará a girar mesmo que o meu mundo se tenha alterado!

Anabela Jerónimo Resende

sábado, 5 de outubro de 2019

Sensações


Sensação de formigueiro ou dormência, sensações de queimaduras ou picadas, facadas ou frio doloroso, são queixas comuns de quem sofreu um AVC e atingiu o sistema nervoso central.

Um simples toque no local afectado, seja com um leve roçar da roupa, seja com a brisa costumam ser sensações muito desagradáveis ou de dor, no entanto são estímulos inofensivos.

É exactamente assim que me sinto desde que sofri o AVC, todos os dias, nenhuma hora do meu dia é fácil, pois não me oferece descanso, nem por escassos minutos, esses sintomas já fazem parte de mim.

Como eu consigo viver assim, sem a harmonia do meu corpo, sempre com uma sensação desagradável, nem eu sei.

O que eu sei, é que se eu não tivesse a capacidade de sorrir e de brincar com o que me acontece, já teria dado em louca por tudo o que sinto, sendo real ou não.

Então manter um sorriso e a boa disposição não é uma opção, é uma necessidade para manter camufladas de mim própria, as sensações tão exacerbadas que vou sentindo e viver a vida um pouco melhor.


Anabela Jerónimo Resende

sábado, 28 de setembro de 2019

A minha fala


Como tinha um pouco de conhecimento, devido ao trabalho que exercia, sabia que o lado esquerdo do cérebro é o que comanda a fala, logo também sabia que corria um sério risco de perdê-la.

Apesar de ter momentos que dormia e muitos momentos de ter a sensação de estar fora do meu corpo, sempre que conseguia a ligação com a minha consciência, a minha principal preocupação era a minha fala.

Então silenciosa, numa sala onde o silêncio não se fazia ouvir, devido às várias máquinas ligadas e aos queixumes de quem se sentia desesperado, pedia a Deus para não ficar sem fala, que iria suportar tudo, mas para não me deixar sem falar, que isso não iria suportar, que com as sequelas físicas iria arranjar maneira de conseguir lidar, mas sem a fala não.

De início tinha a percepção que não me fazia ouvir, que falava, mas a voz não chegava aos outros e perguntava continuadamente se estavam a perceber o que eu dizia, mas nunca perdi a minha voz.

Saí do internamento ainda com a voz meio sumida, diferente, mas estava lá, soube mais tarde que fiquei com a síndroma do sotaque estrangeiro, falava tudo com um sotaque de alguma língua estrangeira, e com disartria, dificuldade de articular algumas palavras, que ainda se mantém.

Fiz terapia da fala em Setúbal, no Hospital São Bernardo, em ambulatório e nas Residências Montepio, uma Unidade de Cuidados Continuados, onde estive internada, para melhorar a fala, apesar de os deficits não serem grandes.

Deus ouviu o meu pedido e não me desamparou, então como posso revoltar-me com quem poupou a minha fala, o que eu mais queria?

Só tenho é que agradecer e muito.
E tenho conseguido ter todos os dias, força e determinação para suportar o grande fardo a que fui submetida!

Anabela Jerónimo Resende

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Parabéns Portugal AVC


Hoje, 23 de Setembro, faz 3 anos que a PT. AVC - União de Sobreviventes, Familiares e Amigos se tornou num projecto real.

Com um núcleo de pessoas decididas a abraçar este nobre projecto, sejam sobreviventes, familiares e profissionais de saúde ou simplesmente pessoas que querem ajudar.

Empenho, entrega e  espírito de voluntariedade são particularidades de quem se dedica à Portugal AVC.

Sempre em benefício dos sobreviventes de AVC para ajudar a minimizar as dificuldades que encontram na sua reabilitação, na sua integração profissional e social.

E sempre que possível contribuir para ajudar na prevenção, alertando a população sobre os factores de risco de um AVC.

Fazer parte desta família crescente que é a Portugal AVC, é motivo de orgulho e dedico-me de coração a esta nobre causa.

Um agradecimento a todos que tornaram possível a existência da Portugal AVC!

Anabela Jerónimo Resende

















sábado, 21 de setembro de 2019

Tempo

   Antes & Após AVC

Num passado próximo, desejei muitas vezes poder viajar no tempo, de voltar aquele tempo, em que não dava valor ao que verdadeiramente era valioso, a minha vida.

Ao sentir-me perdida no tempo várias ocasiões, precisei de tempo para pensar no que era importante para iniciar uma viagem no tempo futuro que me conduziria a um caminho mais promissor.

O tempo foi conselheiro para eu compreender que precisava de tempo para me fortalecer, para voltar a ser eu de novo e que o tempo não volta atrás.

A realidade é que mudei com o tempo, mas peço ao tempo, tempo para que me dê forças sempre para continuar a lutar por uma vida melhor e mais sábia.

E sinto agora já não precisar de voltar no tempo para me encontrar, eu estou aqui mais segura que nunca e tenho aprendido com o tempo, que não preciso de tempo para voltar ao passado, preciso é de tempo para viver o futuro plenamente, limitada, mas seguramente viva e com tudo o que preciso.

E como o tempo não espera por mim, é tempo de viver intensamente e tempo de fazer o que me faz feliz!

Anabela Jerónimo Resende

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Persistência


Já passaram muitos anos de luta, de superação desde que sofri o AVC, muito aconteceu desde então, foram anos, meses, dias muito complicados, foi uma fase muito difícil de ultrapassar, sem saber ao certo o que o futuro me reservava, mas o tempo trouxe-me respostas que não consegui obter rapidamente.

Tive uma recuperação até agora como ninguém pensou que conseguisse, consegui vencer muitas batalhas que de início pareciam impossíveis, foi preciso ultrapassar a tristeza, ultrapassar a mágoa, ultrapassar grandes lutas interiores, e os meus receios foram se transformando em experiências positivas e assim consegui erguer-me e cheguei a superar muitos dos meus limites.

Depois de fazer muitas terapias, como terapia da fala, terapia ocupacional, passando pela reabilitação do vestibular, experimentando acupunctura, fazendo pilatos e nunca esquecendo a fisioterapia, que ainda faço passado tanto tempo.

Apesar de o meu corpo ainda não responder como deveria, não vivo iludida que possa acontecer uma recuperação total, prefiro acreditar e agradecer o que já consegui conquistar.

O tempo vai passando e as sequelas vão perdurando, mas eu vivo empenhada em persistir e nunca desistir.


Anabela Jerónimo Resende

domingo, 8 de setembro de 2019

Dia Mundial da Fisioterapia


O meu sentimento é e será sempre de gratidão para os profissionais de fisioterapia, que de alguma maneira me ajudaram a seguir em frente nestes anos depois do AVC que sofri no dia 12 de Janeiro de 2013.

Além da minha determinação, da minha grande vontade de desejar de ter uma boa recuperação e no sentido de a minha autonomia ser cada vez mais e melhor, são os fisioterapeutas que me auxiliam para ter aquele suporte que preciso.

A todos os fisioterapeutas que têm cruzado o meu caminho, que têm tornado o impossível, mais perto do possível, sou grata e jamais esquecerei pelo que têm feito por mim.

Ainda não estou fisicamente como gostaria, mas sei que cada vez estou melhor, pelo apoio, pela força e pela orientação que colocam há minha disposição, nesta caminhada que ainda não tem um fim há vista.

A minha enorme Gratidão!

Anabela Jerónimo Resende

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Para sempre é muito tempo…



Ainda estava hospitalizada e já tinha o destino traçado pelos médicos que me assistiram, que nunca iria andar, por isso teria que ser dependente de uma cadeira de rodas para sempre.

Só soube do diagnóstico, passados 2 meses de sofrer o AVC, depois de vir da minha primeira consulta de neurologia, quando fiz questão de ler todos os relatórios médicos, apesar de terem relutância de me mostrarem por serem muito negativos em relação há minha recuperação.

Passados tantos anos ainda me lembro tão bem do que disse depois de acabar de ler os relatórios, virei-me para o meu marido e disse que não podiam estar a falar sobre mim de certeza, que eu nunca iria ficar numa cadeira de rodas para sempre e que não me conheciam para afirmarem sem espaço para dúvidas, que era isso que iria acontecer.

Teimosamente, nesse dia e como em muito outros dias no futuro, não quis ir à consulta de neurologia de cadeira de rodas, então lá fui ainda sem nenhuma ortose no meu pé direito e com o apoio de um tripé para a consulta, para espanto do neurologista.

A minha marcha na altura era péssima, andava meio encurvada, com uma postura horrível, o meu pé não se mantinha direito, mas fui mesmo assim e a minha teimosia nunca me deixou desistir e quanto mais eu ouvia dizer que não iria ser capaz, mais eu me esforçava para conseguir.

Muitas vezes as dúvidas não eram ditas em palavras, eram ditas com olhares, eram ditas com atitudes, no entanto a minha determinação perante isso era a mesma, pois desde o início que sempre disse que não iria ficar dependente de tudo e todos e ainda percorro um longo caminho, cheio de barreiras, de dificuldades e repletos de complicações, para que isso não aconteça.

Evidentemente tenho conseguido algumas vitórias que me deixam orgulhosa do esforço que tenho feito e nada nem ninguém vai conseguir mudar a minha maneira de encarar as dificuldades e as minhas motivações.

E para sempre é muito tempo quando a minha determinação é enorme e não fico dependente de outros para alcançar o meu propósito de conseguir superar as barreiras que tenho de vencer.

Anabela Jerónimo Resende

domingo, 1 de setembro de 2019

#1 Carta para o meu neto



Dia 31 de Agosto foi um dia especial para mim, foi o dia em que o meu neto fez 1 ano e eu escrevi-lhe uma carta para saber o quanto é especial para mim.

#1 Carta para o meu neto

Hoje é o teu dia. O teu. 
O dia em que nasceste e eu me tornei avó.

Passou um ano, um ano inteiro e parece que foi ontem, porque as memórias daquele dia em que nasceste ainda estão tão presentes.

Como me lembro bem da primeira vez que te vi, que te peguei ao colo, não sabia se havia de rir ou chorar, tamanha era a felicidade que sentia invadir o meu coração, vai ser um dia que vou sempre recordar.

Ver a tua carinha, de quem acabou de chegar a este mundo, foi inestimável, é uma memória que ficará sempre gravada em mim.

Ser tua avó e observar-te a crescer tem sido uma dádiva e uma aventura, és uma criança sempre tão alegre, tão amorosa, tão traquinas, tão cheia de vida.

Se me mostrassem uma sala cheia de meninos para escolher um de quem queria ser avó, iria sempre escolher-te a ti, porque és tudo o que sonhei para o meu neto e muito mais.

Se um dia alguém dizer que eu te mimo demais e que te faço as vontades todas…
Sabes o que vou fazer?

Vou fingir que não ouvi, nem quero saber, pois só me interessa ser tua avó, mimar-te e contribuir para que sejas um menino sempre feliz.

Porque fazes de mim a avó mais afortunada do mundo e a mais feliz também.

Anabela Jerónimo Resende

domingo, 18 de agosto de 2019

Perdas & Ganhos


A pedido do Blog AVC Luta Diária, para escrever sobre Perdas & Ganhos aqui fica um pequeno texto que escrevi.

Já passou mais de 6 anos desde que sofri um AVC Hemorrágico, no Tálamo, no Sistema Nervoso Central, em que fiquei completamente paralisada do lado direito, o que condicionou muito a minha vida, tinha então 44 anos.

Derivado ao local da lesão, além das sequelas físicas, fiquei também com as sequelas sensitivas e emocionais, e por isso os meus dias depois do AVC nunca foram fáceis, ao perder os movimentos todos do lado direito, tive que aprender a andar de novo, a aprender cada coisa como se fosse a primeira vez, foi tudo muito demorado.

Fiquei dependente de uma cadeira de rodas, assim como da minha família para tudo o resto, desde fazer a higiene pessoal, vestir e até mesmo comer, entre tantas outras coisas, perdi a vida como a conhecia até então, foi mesmo como se começasse de novo a conquistar pequenas coisas, uma de cada vez, muito lentamente.

Aos poucos fui recuperando a minha mobilidade, a minha autonomia, aprendi a adaptar-me há minha nova condição, hoje em dia, sou uma pessoa independente na minha casa, faço a higiene pessoal, visto-me, calço-me e alimento-me, tudo sozinha, além de fazer as refeições e várias tarefas de casa, aprendi a fazer tarefas normais, mas de outro jeito que fui descobrindo.

Dia após dia, adapto-me a novas maneiras de conseguir fazer as tarefas que antes eram banais, pois existem várias formas de me adaptar a esta nova vida, a aprender a ter uma vida o mais independente possível e a reajustar-me a uma nova maneira de olhar a vida.

Ainda não estou como antes, as sequelas foram muitas, mas descubro sempre outras formas de compensar o que havia perdido, porque para mim o importante é estar viva a viver outras experiências, que são tão válidas como as anteriores.

Devemos sempre cultivar a esperança de que tudo vai melhorar, pois a vida não termina, mas vai adaptar-se a uma nova forma de viver.

Anabela Jerónimo Resende

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Aceitação


Aceitar o que nos acontece, aceitar o que o destino ou a fatalidade que a vida nos reserva, nem sempre é fácil de aceitar e muito menos aceitar de ânimo-leve.

Depois de passar aquela apatia que senti nos primeiros dias, logo após sofrer o AVC, comecei a aceitar o que me tinha acontecido, pois era algo que sentia dentro de mim que devia ser assim.

Acabei por não sentir a revolta, nem de início, nem nos dias de hoje, como acontece muito, o que é natural devido aos acontecimentos inesperados de uma vida transformada.

Mas o que nunca fiquei foi conformada, ainda hoje em dia não estou conformada com a minha vida toda modificada, por algo que não queria nem pedi.

O aceitar, não quer dizer que ficasse parada no tempo, não quer dizer que não tentasse mudar a situação ou que ficasse o resto da vida a lamentar.

O aceitar é inevitável, aconteceu e quanto a isso não posso fazer nada, mas posso tentar sempre fazer algo para reverter a situação.

É aí que entra a minha força, a minha determinação, a minha grande vontade de querer e de vencer, que vêm nem sei de onde, mas que estão cá dentro de mim.

Então luto, batalho pelo que quero, pelo que sinto ser certo, porque ouço uma voz que está sempre comigo, que diz ao meu ouvido baixinho:
”Não pares, não desistas, não renuncies ao que desejas, continua sempre em frente…”

Não consigo compreender de onde vem essa voz que existe dentro de mim, mas ainda bem que existe, talvez seja o que eu precise para nunca desistir de mim.


Anabela Jerónimo Resende

terça-feira, 9 de julho de 2019

Convivência pessoal


Até à data em que sofri o maior revés da minha vida, nunca tinha sentido tanto a minha presença, quase como se estivesse a ser seguida por mim mesma.

Comecei a ser uma presença tão assídua a mim própria, que me sentia a sufocar, para onde olhasse só me via a mim.

Nunca tinha tido um encontro tão presente, a minha cabeça nem conseguia pensar naturalmente, queria fugir de mim mesma, era uma dor que sentia insuportável.

Pensava que se estivesse acompanhada, essa presença iria diminuir, mas cada vez mais invadia a minha vida, por essa razão acabei por sentir o afastamento de algumas pessoas mais doloroso do que na realidade era.

Queria fugir de mim mesma, chorei muito por pensar que nunca mais iria recuperar da minha presença, desci a um poço de negridão até não conseguir pensar com clareza.

Quando comecei a encarar a minha presença de frente, quando percebi que não tinha alternativa senão conviver comigo mesma, tudo ficou mais fácil para mim, contudo não foi um processo simples de maneira nenhuma.

Descobri que a presença de mim própria é muito poderosa e estava com sérios problemas para encarar a dor que tinha ao sentir o coração esfarrapado e a alma desnudada.

No entanto, com o passar do tempo, a minha própria presença fez-me aprender a conviver comigo mesma até atenuar o que sentia, até aprender a estar sozinha e a gostar da minha companhia.

Foi um percurso doloroso tanto fisicamente como psicologicamente, contudo consegui sobreviver a essa presença tão constante até ser uma só, e assim conseguir sentir-me muito mais leve comigo própria.

Anabela Jerónimo Resende

sexta-feira, 5 de julho de 2019

O lado positivo da vida


Já passei por muitos desgostos deste que sofri o AVC, desde acontecimentos que não correram bem, até às pessoas que demonstraram ser diferentes do que faziam acreditar.

No entanto, sempre mantive a mesma postura perante a vida, sempre tive um jeito muito próprio de ver a vida e de pensar e assim continuo.

Sempre olhei para a vida pelo lado positivo, pelo lado optimista que sempre me caracterizou, o que me ajudou a superar momentos muito complicados pelos quais passei.

Nem nunca deixei que ninguém tirasse o que tenho dentro de mim, uma esperança infinita, de que tudo vai melhorar.

Este período da minha vida nem sempre tem sido fácil, apenas o meu desejo de superar é sempre maior que o obstáculo evidente.

E difícil mesmo é ter a coragem de dar o primeiro passo, rumo a uma vida mais feliz, pois dificuldades sempre vão surgir pela vida fora.

Depois… Depois é seguir em frente, sem viver amedrontada que alguma coisa corra mal e aproveitar a vida.

Anabela Jerónimo Resende

segunda-feira, 17 de junho de 2019

A outra metade de um século


Chegar à outra metade de um século, àquela idade que apelido frequentemente da infância da velhice, àquela idade em que não quero saber do que pensam de mim, do que dizem de bem ou de mal, àquela idade em que a vida tem outra cor e outro sabor.

No entanto, não trouxe novos sentimentos, novas emoções, nem sequer me sinto de maneira diferente, pelo contrário, sinto-me eu mesma, igual ao que era e cheguei aos 51 anos com a mesma garra de viver, com a mesma força para superar obstáculos, com uma capacidade de celebrar todas as batalhas que travei e que venci, sem nunca desistir de querer viver o melhor possível.

Houve um tempo em que pensei que quando chegasse a completar meio século, iria ser mais livre que nunca, que iria aproveitar muito mais a vida, que iria estar mais disponível para viver o que até a essa data, ainda não tinha conseguido a oportunidade de ter experimentado.

Contudo, acabei por constatar que não iria ser como idealizei, que iria ser muito mais complexo do que poderia prever, que a vida iria ensinar-me uma dura lição e oferecer-me desafios sem fim à vista.

Mas, continuo a acreditar sempre que consigo escrever uma história de vida cheia de sucessos, durante tantos anos quantos forem possíveis e acredito que enquanto eu viver, viverei sempre agradecendo a oportunidade que me é oferecida de ir celebrando novos aniversários.

Anabela Jerónimo Resende

terça-feira, 4 de junho de 2019

Exposição "Cérebro - mais vasto que o céu"


O dia 1 de Junho foi o dia escolhido por mim, para ir até à Fundação Caloute Gulbenkian ver a Exposição "Cérebro - mais vasto que o céu".

Tinha curiosidade e muito interesse em ver a Exposição, e aproveitar para adquirir algum conhecimento extra sobre o funcionamento do cérebro, se fosse possível.

O atendimento que me prestaram, como pessoa com mobilidade reduzida, foi sempre muito atencioso e amável, na bilheteira quando fui comprar o bilhete e fiz referência ao meu estado, disseram logo que tinha um bilhete grátis e nem precisei mostrar o Atestado Multiusos, até me queriam dar uma cadeira para me sentar, a qual amavelmente recusei.

Apesar de a Exposição não superar as expectativas que sentia, é uma exposição interessante e valeu bem a pena assistir, ainda mais que tive a sorte de ouvir uma guia falar com tanta motivação e entusiasmo, que captava a atenção para pormenores, que facilmente passavam despercebidos.

A parte que julguei ser mais interessante para mim e que captou toda a minha atenção, foi quando ouvi falar sobre o Tálamo, como recebe os estímulos e como os processa, que eu não sabia e assim pude perceber um pouco melhor a região onde sofri a lesão que originou o AVC.

Tive a oportunidade de ver as minhas ondas cerebrais num monitor, que se reflectiam por uma faixa colocada na minha cabeça e ainda de ver como monitores interactivos mostram o movimento do cérebro.

Fiquei agradavelmente satisfeita com a minha ida à Exposição, tive que andar muito, a sala era enorme, mas isso é o que de menos importa, pois valeu a pena as horas lá passadas.


Anabela Jerónimo Resende