terça-feira, 28 de novembro de 2017

Aceitação do inevitável!

Não foi fácil a aceitação da incapacidade que adquiri, ver-me de um momento para o outro dependente de tudo e de todos, foi como se dilacerassem-me ao meio e roubassem todos os meus sonhos, apesar de nunca me sentir revoltada, sentia-me demasiadas vezes fechada em mim própria, perdida numa vida que não queria, numa incapacidade que não pedi.

A aceitação, chegou com o tempo, seguidamente à amargura sentida, à tristeza de ser posta de parte, ao desapontamento constante e das muitas lágrimas roladas pela minha face, depois de fazerem parte da minha vida, a aceitação do que não podia mudar instalou-se em mim.

Era inevitável não aceitar tudo o que me aconteceu, não aceitar a mudança que a minha vida esteve sujeita, até para me reabilitar, como um processo para conseguir seguir em frente ou encontrar pequenas coisas que poderiam dar sentido há minha nova vida.

Pois se não conseguisse seguir em frente, não conseguisse ultrapassar os grandes obstáculos psicológicos, maiores do que os físicos, nunca iria sentir-me bem comigo própria, nem nunca iria ser feliz, precisei "arrumar a casa" por dentro, antes de conseguir ser reabilitada, para logo a seguir, a recuperação do corpo ser mais fácil.

Foi um passo de cada vez, tive que aceitar o que não podia mudar, o que foi muito melhor para mim, assim consegui concentrar-me mais na recuperação do meu corpo, da minha marcha, do meu equilíbrio e na recuperação do meu membro superior e mais num ou noutro pormenor que fará a diferença do lado direito do meu corpo.

Porém, aceitar não quer dizer conformada e isso nunca, nunca ficarei, até ao meu último suspiro, vou lutar sempre pela minha recuperação possível e que esteja ao meu alcance!

Anabela Jerónimo Resende

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Momentos partilhados!



Existem muitas formas de conceder ajuda mútua a quem necessita, pode ser somente por uma visita, por umas palavras de encorajamento ou por fazer sentir a quem necessita de que não está só.

E hoje fui capaz de vivenciar tudo isso, ao fazer uma visita à Unidade de AVC, do Hospital S. Bernardo, em Setúbal, que decorreu tranquilamente e com muito boa energia, 

São momentos assim, que me dão força e determinação para continuar este caminho!

#PortugalAVC #Yes,WeCan #JuntosparaSuperar

Anabela Jerónimo Resende

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O que realmente importa!

Não importa que agora algumas pessoas só consigam ver as sequelas que possuo e não consigam ver o que sou além disso.

Não importa que algumas pessoas olhem para mim e não consigam ver a pessoa que era, na pessoa que eu sou hoje.

Não importa que algumas pessoas passem por mim e fingem que não me veem, no entanto percebo que estão a ver-me muito bem.

Não importa que algumas pessoas pensem que agora não tenho capacidades algumas ou não queiram saber se possuo verdadeiramente certas capacidades.

Agora o que me importa, é que eu não sou só as sequelas que adquiri.

Importa, é que consiga captar quem eu era, mesmo sendo agora em parte, outra pessoa.

Importa, é que continuo a sair e a mostrar-me ao mundo, mesmo que fingem não me ver.

Importa, é que sem ter algumas capacidades de antes, continuo a ter muitas outras capacidades agora.

Importa sim, que apesar de viver uns tempos delicados, confrontada diariamente com a incapacidade, com a inquietação dos dias de mudança, que vivo para mostrar a mim mesma, que fui suficientemente forte para ultrapassar obstáculos, que muitas vezes pareceram intransponíveis.

Afinal, o que importa é que sou feita de fragilidades, de receios e de dúvidas, mas também sou feita de força, de garra e de determinação!

Anabela Jerónimo Resende

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Há sempre incertezas…

A minha caminhada, após o AVC que sofri, tem sido árdua, tem sido feita num caminho muito espinhoso, muito agreste, porém tenho beneficiado de uma consciência corporal muito superior à que usufruía.

Mesmo assim, por vezes coloco a mim mesma, questões que outrora não tinham lugar na minha vida, nem imaginava existirem, e que agora têm um papel de destaque, tais como:

·         Irá algum dia, abandonar-me estas alterações da sensibilidade, que agora sinto demasiado no meu lado direito com hemiparesia?
·         Será que conseguirei andar sozinha, sem desequilíbrios, sem receio das ruas esburacadas e desniveladas?
·         Terei a capacidade que é preciso, para voltar a ser completamente independente?

São algumas das perguntas que faço frequentemente a mim mesma, procurando respostas para que consiga acalmar o meu peito, demasiado inquieto em determinadas ocasiões, sendo talvez as principais incertezas que pairam na minha mente.

Claro que não vivo monopolizada por essas incertezas, nem deixo que intervirem na minha recuperação, na minha fisioterapia diária, contudo confesso que pairam, algumas vezes, dúvidas existenciais dentro de mim, mas quem não as tem?

Anabela Jerónimo Resende

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Quando escrever passa a ser ilusão…

Em certas ocasiões o meu peito inunda-se de saudades, umas saudades que talvez nunca seja capaz de suprir, tenho saudades de algo tão banal e que nunca pensei perder, o escrever com a minha própria mão, como tantas vezes fiz, perto de tudo o que perdi, sei que escrever nem é nada, mas sinto uma falta tão grande.
 
Eu que sempre fui uma pessoa que adorava escrever, não tinha diário, porém usava uma agenda que servia para marcar os meus compromissos ou escrever algo importante. 

Há vários anos que comprava uma agenda, tive muitos modelos, de vários tamanhos, de variadas cores, havia aquelas que adorava mais que outras, com as quais me identificava, tinha um cuidado ao escolhê-las e outro cuidado ao manuseá-las, que aparentavam serem algo de grande valor e para mim eram.

Guardo todas como se fossem um tesouro, numa caixa com todo o cuidado, sinto-as como se fizessem parte de mim, quando seguro nelas, hoje em dia, trazem-me memórias, de momentos bons, outros nem tanto, pois anotava tudo o que se passava de importante na minha vida durante aqueles anos.

Sinto saudades de escrever no papel e com caneta, saudades da minha letra, que não era perfeita, contudo era bem legível, saudades de escrever o meu nome, que agora não passa de uns rabiscos desajeitados e meio ilegíveis.

Não sabia que era possível ter saudades de escrever, de maneira a dar um safanão no meu peito e deixar cair algumas lágrimas, no entanto não é motivo para não prosseguir com a minha vida em frente, mas que custa, lá isso custa!

Anabela Jerónimo Resende