Não foi
fácil a aceitação da incapacidade que adquiri, ver-me de um momento para o
outro dependente de tudo e de todos, foi como se dilacerassem-me ao meio e roubassem
todos os meus sonhos, apesar de nunca me sentir revoltada, sentia-me demasiadas
vezes fechada em mim própria, perdida numa vida que não queria, numa
incapacidade que não pedi.
A
aceitação, chegou com o tempo, seguidamente à amargura sentida, à tristeza de
ser posta de parte, ao desapontamento constante e das muitas lágrimas roladas
pela minha face, depois de fazerem parte da minha vida, a aceitação do que não
podia mudar instalou-se em mim.
Era
inevitável não aceitar tudo o que me aconteceu, não aceitar a mudança que a
minha vida esteve sujeita, até para me reabilitar, como um processo para
conseguir seguir em frente ou encontrar pequenas coisas que poderiam dar
sentido há minha nova vida.
Pois se
não conseguisse seguir em frente, não conseguisse ultrapassar os grandes obstáculos
psicológicos, maiores do que os físicos, nunca iria sentir-me bem comigo
própria, nem nunca iria ser feliz, precisei "arrumar a casa" por
dentro, antes de conseguir ser reabilitada, para logo a seguir, a recuperação
do corpo ser mais fácil.
Foi um
passo de cada vez, tive que aceitar o que não podia mudar, o que foi muito
melhor para mim, assim consegui concentrar-me mais na recuperação do meu corpo, da minha
marcha, do meu equilíbrio e na recuperação do meu membro superior e mais num ou
noutro pormenor que fará a diferença do lado direito do meu corpo.
Porém,
aceitar não quer dizer conformada e isso nunca, nunca ficarei, até ao meu
último suspiro, vou lutar sempre pela minha recuperação possível e que esteja
ao meu alcance!
Anabela Jerónimo Resende
Anabela Jerónimo Resende